terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Mudança de endereço.

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sexta-feira, 22 de julho de 2011

Apologia à dúvida

Se tudo o que vemos e entendemos não passa de interpretação, podemos concluir que ter certezas não é muito inteligente.

O entendimento que temos da realidade que nos cerca é produto de representação.

Comecemos por Deus. Ninguém jamais viu a Deus, já dizia o evangelista João. Deus só pode ser concebido por meio de representação, de analogia, de comparação, de simbologia. É por isso tudo o que “sabemos” a respeito de Deus nada mais é do que o produto de nossa imaginação baseado em alguma experiência que chamamos pelo nome de Deus. O fato é que mesmo que não creiamos em nenhuma divindade, fatalmente estaremos optando por alguma crença, posto que também a não existência de Deus é improvável. Mas se concebemos algum Deus teremos de lançar mão de um modelo que nos sirva de comparação. Os cristãos fizeram a opção por Jesus, como símbolo (representação) de Deus. As religiões afro-brasileiras têm seu panteão de divindades, os orixás, e tem por Deus o Pai Olorum. Os mulçumanos tem Alá. Os hinduístas tem Shiva e centenas de outras divindades. Logo, uma convicção absoluta de Deus é idiotice e uma convicção absoluta de não-Deus também é imbecilidade. Tudo não passa de um caminho escolhido, de uma escolha de crença.

Crença não é convicção, não é certeza. Acreditar é dar crédito a. Como numa operação financeira em que o banco ao emprestar dinheiro ao seu cliente está lhe concedendo um crédito.
Mesmo a matemática, embora lide com resultados exatos é formada por representação. Os números nada mais são que representação do que chamamos de quantidade. A representação faz parte de qualquer aspecto da vida humana. Representamos sons e comunicação pela linguagem. Representamos a vida nas manifestações artísticas. Shopenhauer já falava do mundo como vontade de representação. Não há problema em representar, em simbolizar, em imaginar. O problema está em nossa convicção sobre a nossa representação. A certeza de nossa interpretação é perigosa porque nos cega para o fato de outros possuem interpretações diferentes e também legítimas

A meu ver, toda ortodoxia e dogmatização fundamentalistas são barreiras para um pensamento inteligente. Portanto, eu sugiro que toda convicção e certeza seja questionada.

Algumas áreas onde nossa percepção de realidade dogmatizada e que precisamos reconsiderar apenas como percepções e não como a verdade última:

- Religião. Há milhares. Não pode ser possível que apenas uma seja a correta. Cada um faz a sua opção por um caminho.

- Moral. Certo e errado mudam conforme localização geográfica, cultura, tempo, contexto, etc.

- Ética. É preciso entender a ética dentro do contexto da situação. Afinal, se diz que até bandido tem sua “ética”.

- Família. O modelo familiar mudou, hoje temos uma pluralidade de modelos com os casais homoafetivos, os divorciados, filhos adotados, etc.

Enfim, todas as áreas da vida humana estão marcadas pela representação e por isso podem ser repensadas e não precisam ser absolutizadas. É nossa necessidade de dar sentido que faz com que nos apegamos a convicções sobre modelos e sistemas que nada mais são do que a maneira como queremos significar as coisas pra nós. Ou seja, queremos que a vida e o mundo façam sentido.

O caminho da maturidade a meu ver percorre pela percepção do fato de que não sabemos o sentido ou se a vida tem algum sentido. E nesse caso, ou convivemos com esse vazio de sentido, ou damos um sentido para ela, ou ainda optamos por um caminho que poderá ser o de alguma religião ou crença. Fato é que, quer optemos por um caminho de ter sentido ou não ter sentido conviveremos com a dúvida se encontramos a verdade ou não. Portanto a resposta adequada a como conviver com isso, é a humildade no sentido de “eu não sei o sentido da vida, mas a minha opção é essa tal e tal”. E a opção de outro ser humano deverá ser respeitada. Essa opção trilhará pelo caminho da esperança e da fé. Em outras palavras, podemos dizer que todo ser humano é provido de fé, de esperança. Podemos então concluir que ter fé e esperança é humano, ter convicções e certezas é infantilidade.

Porém respeitar a opinião ou o caminho do outro quanto ao sentido, não quer dizer que não possamos fazer questionamentos. Repito o caminho da maturidade não é ter certeza, mas é justamente a dúvida e a consciência de que o significado escolhido é apenas mais “um” e que, portanto sempre poderá ser desconstruído e novos significados poderão ser construídos. Parece loucura, para alguns. E talvez eu deva dizer que nem todos suportarão esse tipo de pensamento e vão se trancar nos seus próprios significados. Já dizia Sócrates: “Só sei que nada sei."
Autor: André Luiz é estudante de Teologia e pós-graduando em Filosofia. É também palestrante da Ruah.

terça-feira, 29 de março de 2011

Deus Existe?

As pessoas tem me perguntado se eu creio na existência de Deus. Em tese, parece uma pergunta de resposta óbvia para estudante de teologia. Isso porque sempre que se fala em teologia, não se tem a dimensão exata do que significa esta disciplina, e acabam sempre associando a coisa de padre e pastor. É verdade que no Brasil o que mais existem são os cursinhos confessionais e fundamentalistas. Mas existem formas mais "científicas", se é que podemos usar esse termo, de encarar a teologia. Não no sentido de ciência como experimentação do objeto. Mas no sentido de metodologia. Estou falando de teologia no sentido da teologia antropológica por exemplo, da histórica, filosófica, etc. Enfim, a chamada teologia acadêmica que dialoga com todas as demais ciências e não considera os textos sagrados de forma literal.

Mas, voltando a pergunta que sempre me fazem. Eu tenho respondido que a minha esperança é que Deus possa existir. Mesmo assim, não estou pensando num ser. Estou pensando numa possibilidade e numa idéia que tenho a respeito de Deus. Até porque é isso mesmo. Deus até onde o conhecemos é apenas uma idéia. E só o concebemos através de analogias, metáforas com as coisas conhecidas do mundo mesmo. Então a idéia que tenho é que o que chamamos de Deus, na "verdade" seja o amor. Ou o que chamamos de amor, na "verdade" seja Deus.

Explico melhor. Tenho uma visão um tanto trágica e pessimista a respeito da humanidade. É mais difícil encontrarmos bondade e solidariedade no ser humano. É mais raro. O normal é o egoísmo, a maldade, a ambição, a violência, etc. Talvez por uma questão de sobrevivência. O amor é raro. E por ser raro, às vezes parece até divino. E daí as pessoas chamam isso de Deus. Ou seja, para mim permanece a pergunta: Deus é amor ou o Amor é Deus? A resposta tanto faz, pois não podemos provar existência ou inexistência de Deus.

Então, eu não tenho uma resposta pronta para dizer se creio ou não na existência de Deus. Eu creio no amor. Creio que o amor é salvação da humanidade. Nasci na tradição cristã, que simboliza o amor por meio de Jesus. Jesus é símbolo de Deus, como escreveu o teólogo católico Roger Haight. Portanto, acho que falar sobre a existência ou não de Deus, é perder tempo. Não chegaremos a conclusão alguma. Mas crer no amor é ter esperança, esperança na humanidade. E isso não se limita a Jesus ou o deus de qualquer outra religião, isso tem a ver com toda a humanidade e toda forma de expressar e viver o amor.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Mundo Corporativo: Metas ou Pessoas?

Essa semana estive em um banco para pagar uma conta. Ao terminar de efetuar o meu pagamento o rapaz do caixa me ofereceu um serviço do tipo seguro hospitalar. Muito superficialmente ele me apresentou o funcionamento do serviço, o valor e os benefícios. Solicitei para ele o folder, a fim de que pudesse olhar com calma em minha casa. Foi quando ele me disse que precisava muito bater as metas e tinha pressa quanto a minha adesão ao plano. Pensei comigo: acabou de me perder como cliente. Senti que o rapaz estava muito mais preocupado em bater suas tais metas, pois o banco assim exigia dele, do que me oferecer um serviço que de fato atendesse as minhas necessidades. Ele simplesmente não tinha tempo para gastar comigo enquanto cliente.

Esse acontecimento corriqueiro me fez pensar em como o mundo corporativo vem procedendo. As metas tornam-se tão imperativas que já não se presta atenção no cliente e nas suas reais necessidades.

Um grupo de escoteiros teve como meta chegar ao cume de uma montanha. Alguns com muita pressa empurravam os outros que vagarosamente subiam e paravam vez por outra para observar as coisas ao redor do caminho. Havendo o grupo todo chegado em cima do monte, o chefe faz perguntas a respeito do que puderam observar durante o caminho e como aquela experiência com a natureza lhes afetara. Obviamente aqueles que prestaram mais atenção na natureza durante o caminho, foram mais capazes de responder e assim compartliharam as maravilhosas impressões e sensações com o contato que tiveram com as plantas, as sombras das árvores, o cantar dos pássaros com seus ninhos engenhosos, e com toda a natureza em volta daquele percurso que puderam apreciar. O chefe então relata que os que ganhariam as medalhas seriam estes e não aqueles que chegaram primeiro, pois o objetivo não era chegar primeiro e sim ter experiências durante o caminho.

Que tal se o mundo corporativo mudasse a sua lógica de atingimento de metas, por uma em que as necessidades humanas dos clientes, que são seres humanos, fossem atendidas? Que tal se pudessem ensinar isso aos seus colaboradores, ao invés de pressioná-los? Que tal se pudessem abandonar, quando se tratar de ser humano, da lógica fria da economia e da matemática financeira? Será que todos não seriam enriquecidos com os relacionamentos que seriam feitos com os clientes? Qual pessoa não desejaria ser ouvida de fato sobre as suas reias necessidades? Não se poderia dessa forma oferecer um serviço muito mais interessante ao cliente, que de fato o atendesse?

Um dos grandes problemas do mundo corporativo tem sido a perda da visão da dimensão humana, seja ela de seus colaboradores ou de seus clientes, em favor de uma busca desenfreada por lucro e crescimento. Quando isso ocorre, quantos de fato estão ganhando? Quantos de fato na sociedade são beneficiados? E ainda, o quanto de fato o empresário está cuidando da continuidade da vida de seus negócios. Criar um ambiente e uma filosofia de gestão humanizadora no mundo corporativo é o grande desafio de hoje. Do contrário, até onde perdurarão de fato as empresas, quando os clientes começarem a perceber que tudo o que a empresa quer é bater metas e não prestar serviços que de fato atendam as suas reais necessidades? Quando falamos de espiritualidade no ambiente de trabalho, falamos disso: de um modelo de gestão e relacionamentos corporativos capazes de enxergar clientes, parceiros, colegas, fornecedores como os verdadeiros seres humanos que são em toda a sua integralidade.

Empresas que se preocupam com sua imagem na sociedade já estão avançando nesta direção. Muitos clientes, por exemplo já verificam antes de comprar algum produto se a dona daquela marca tem políticas de sustentabilidade, projetos sociais, etc.

Quando estiverem com um cliente na sua frente não o olharão apenas como aquele que o ajudará a bater metas, mas como alguém que de fato é seu próximo e tem necessidades. Ambos serão beneficiados: cliente e empresa. Todavia será necessário parar, prestar atenção, gastar tempo com ele, enriquecer-se da beleza e dos conhecimentos que todo bom relacionamento traz. Que empresas hoje estão dispostas a começar a mudar essa lógica dentro de seus ambientes e de sua gestão?

André Luiz Alves da Silva - Palestrante da Associação Ruah
Desenvolvimento Integral do Ser Humano

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Espiritualidade na Pós Modernidade

Vivemos na chamada era pós-moderna. Esse é o tempo que caracteriza-se pela pluralidade e a conseqüente relativização. Diferenciamos do modernismo onde a crença era a de que a verdade poderia ser encontrada unicamente através da ciência. Porém nesse novo tempo o que se propõe é que não existe uma só verdade, mas sim várias maneiras de interpretar o mundo em que vivemos. O pós-modernismo não precisa ser encarado como um mero ceticismo a respeito de tudo, mas pode ser visto positivamente como a maneira de entender as outras maneiras de ver o mundo. O que já não cabe mais nessa era são os ortodoxismos e dogmatismos engessados das velhas instituições religiosas, científicas, filosóficas, políticas, etc. Entretanto, isso não quer dizer que a ortodoxia precise ser jogada fora, mas pode ser humildemente encarada como mais uma das muitas possíveis interpretações de um mundo e humanidade tão complexos. A tradição terá sua validade sempre que estiver em constante diálogo com outras tradições e aberta a reconstrução e re-significação.
É pensando nisso, que eu tenho chegado a conclusão que uma concepção de espiritualidade precisa estar em conexão com esse novo tempo da humanidade. Este, também chamado de “era da informação”, não é mais o tempo de conhecimentos e pessoas isoladas. Quer queiramos ou não, não estamos sozinhos, além de toda a tecnologia que nos conecta ao mundo inteiro, temos em nossas mãos todo legado de conhecimento como a história, a filosofia, a ciência, a sociologia, a religião, etc. que não nos deixa margem para pensarmos isoladamente. Mas com todo esse acúmulo de saber herdado somada a inescapável conexão com o mundo, com os outros povos, com o diferente; ficamos obrigados a reformular toda nossa vivência a partir dessa perspectiva globalizada e interdisciplinar. Isto não quer dizer que temos que nos tornar em seres despersonalizados, padronizados sem nenhuma identidade própria que nos diferencie. Apesar de tudo isso nos levar a considerar nossas igualdades e diminuir o conflito das nossas diferenças, entendo que podemos e devemos sim manter nossas singularidades, entretanto o que já não é mais possível é termos atitudes de intolerância para com as singularidades dos demais. Neste caso, o diálogo deverá ser o mecanismo mediador que protege a identidade, mas que ao mesmo tempo nos tornará capazes de rever nossas certezas absolutas.
Uma espiritualidade que considera essas premissas fundamentais, forjará seres humanos habilitados a agir amorosamente com o seu próximo, seja ele diferente ou semelhante.  Cultivar espiritualidade na pós-modernidade é se relacionar com os aspectos imateriais que dão significados de existência ao ser humano dentro de sua própria identidade ou tradição ou a partir dela, mas sempre aberto a dialogar com o diferente. A vantagem em relação ao modernismo, é que agora não somos mais os donos da verdade, mas reconhecemos que nossa verdade é uma das muitas verdades possíveis.
Até agora eu me utilizei de termos gerais para tratar do tema de espiritualidade na pós-modernidade, sem entrar em situações específicas. Eu diria que o uso da abstração é proposital para permitir que o leitor possa ele mesmo fazer a aplicação que lhe convier. Mas o que proponho no presente artigo é uma maneira de lidar com nossos significados sejam eles mediados pela religião, pela mística ou pela nossa maneira de lidar e enxergar a vida e tudo o que fazemos e somos. É preciso que, seja lá qual for a nossa (des)crença espiritual, pensemos como habitantes do mesmo planeta, membros da mesma comunidade. O individualismo e materialismo, que imperam também nessa era, nos encaminharão para nossa auto-aniquilação. É preciso mudar, ou os seres humanos vão entrar em extinção. Exemplos disso estamos vendo diariamente nos jornais: guerra, fome, destruição do meio ambiente, aquecimento global, morte de inocentes. A vida humana tornou-se sem valor para os próprios seres humanos, porque matamos uns aos outros.  Os fundamentalismos não nos ajudarão, só acelerarão esse nosso processo suicida. A utopia de um projeto de espiritualidade é fazer com que todos os homens sejam capazes de amar uns aos outros, de dar a vida uns pelos outros, sem matar e sem morrer. Paradoxal? Talvez. Mas é nossa única chance de sobreviver.